City tour pelas lendas no Centro Histórico
Conheça o grupo de teatro que encenou as lendas populares pelas ruas mais antigas de Cuiabá
Algumas lendas permeiam o imaginário dos cuiabanos. Para além disso, muitas possuem estreita relação com o próprio espaço urbano da cidade, especialmente com Centro Histórico. Foi pensando nisso que um grupo de teatro da capital, o grupo Tibanaré, idealizou o espetáculo Passeio Noturno. A encenação é organizada na forma de um city tour noturno pelo Centro, em um ônibus coletivo adaptado que percorre as ruas da capital. O espetáculo foi realizado de 2015 a 2016 e, desde então, o grupo vêm tentando realizar uma nova edição. Passeio Noturno também recebeu o prêmio Brasil Criativo de 2016 na categoria Teatro.

O grupo Tibanaré, que carrega o nome de uma das lendas típicas cuiabanas, baseou-se tanto em pesquisa bibliográfica quanto em entrevistas com moradores do centro histórico. A atriz Juliana Graziela, que faz parte do grupo, conta: "A gente usou referências de livros, mas também entrou na casa das pessoas, conversou, coletou relatos e, a partir disso, pudemos ver quais as lendas estavam mais vivas no imaginário da população", explica.


Jefferson Jarcem, diretor geral do grupo, relata que essas entrevistas tiveram papel fundamental para a montagem do espetáculo: "As entrevistas foram fortalecendo as história que já existem. A dramaturgia então mistura roteiro turístico, com os contos e o ficcional que relata a saga do guia turístico, Seu Chico [interpretado por Vini Hoffman]", diz ele.
Seu Chico é a personagem que conduz o público pelo espetáculo, assumindo o papel de guia turístico. A narrativa conta a história do centro de Cuiabá e de seus pontos turísticos, utilizando-se das lendas urbanas para fazer isso de uma forma diferente. Ao longo do passeio, o público se depara, por exemplo, com a "a carroça mal assombrada", a "procissão das almas", a "alavanca de ouro", a "noiva de branco" e até a Morte.
"A Noiva de Branco foi o conto mais mencionado pelos moradores, por isso ganhou um papel principal na dramaturgia", conta Jefferson. "As lendas foram definidas no roteiro seguindo o trajeto do ônibus, assim, as cenas casavam com as histórias dos patrimônios históricos com as lendas", explica.
Juliana destaca o envolvimento do público como um dos pontos altos do espetáculo. "As pessoas olhavam mesmo para a cidade, e ficavam curiosas quando a gente falava sobre as lendas associadas àquele lugar. Era um encontro mesmo com a cidade. A gente chama mesmo as pessoas para fazerem o teatro com a gente, sem separação entre os atores e o público", explica a atriz.

Como as lendas urbanas costumam ser narrativas assustadoras, esse aspecto também compõe a dramaturgia do Passeio Noturno. "Tem gente que às vezes tem medo, porque a gente traz a Noiva de Branco para dentro do ônibus e também a figura da Morte, que anda em perna de pau", relata Juliana, que fica entre o público em seu papel.
O diretor do grupo destaca que, como teatro de rua, o Passeio não acontece sempre da mesma forma, justamente por conta do envolvimento do público, que muda a cada sessão. "Foi preciso que houvesse liberdade para abrir o espaço para ouvir o público com suas histórias e curiosidades, e voltar sem rasurar a dramaturgia", diz ele.
