300 anos de lendas, 300 anos de Cuiabá
Completando 300 anos, Cuiabá traz consigo a resistência de tradições e histórias que insistem em se fazer presentes mesmo com a modernidade. Fundada às margens do Coxipó do Ouro, no Arraial da Forquilha, a capital matogrossense é recheada de lendas que movem um imaginário e fizeram parte da história de muita gente.
Bandeirantes vieram para estas terras então desconhecidas em busca de índios, mas acabaram encontrando ouro. Entre as ordens de Pascoal Moreira Cabral e Miguel Sutil, as minas foram sendo formadas e junto delas o aumento da população em busca das pedras preciosas.
Em 1º de janeiro de 1719, Moreira Cabral assina a ata de fundação de Cuiabá, fazendo parte da Capitania de São Paulo, uma das mais importantes da colônia. Em 1727, Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá já tinha sua primeira aglomeração, uma igreja catedral e a busca pelo ouro ia a todo vapor.
Durante o tempo em que Cuiabá foi se expandindo de vilarejo à cidade, da Colônia ao Império e os primeiros anos de República, as histórias e lendas, influenciados por crenças religiosas e contos populares, perpetuaram no imaginário do povo, influenciando até mesmo um grupo de teatro a encenar os encantos da magia cuiabana, o Grupo Tibanaré. Passeando pelas ruas do Centro Histórico, o grupo reproduziu o que antes só se escutava.
A atriz Juliana Graziela, que faz parte do grupo, contou: "A gente usou referências de livros, mas também entrou na casa das pessoas, conversou, coletou relatos e, a partir disso, pudemos ver quais as lendas estavam mais vivas no imaginário da população", explica.
Segundo Fernando Tadeu de Miranda, Pró-reitor de extensão, vivência e cultura da Universidade Federal de Mato Grosso e professor de história da instituição, as lendas foram e ainda são de suma importância e transmitem um saber que transcende gerações.
Ao falar do povo cuiabano, afirma que suas virtudes e valores provêm das suas histórias. "[O cuiabano é] Um povo que não perde a esperança num mundo melhor, num mundo diferente e também com responsabilidade. E quem é que nos ensina isso? O conhecimento das lendas, porque as lendas mostram o futuro. Atrás de cada lenda, há um recado! Um recado de proteção à natureza, um recado para a criança se cuidar, um recado para com o rio, um recado com a alimentação [...]".
Fernando Tadeu também aponta para uma falha do sistema educativo da cidade. "Cuiabá sempre teve preocupação com a história, no entanto, é preciso fazer com que os currículo das escolas sejam revistos. [...] É necessário se ter conhecimento histórico, é necessário cuidar da história, é necessário proteger a história, porque quem protege a historia, protege a vida. E a história faz com que, a pessoa que a protege, viva para sempre", defende.
Passando por diversos cenários do cotidiano cuiabano, as lendas narram histórias de busca, de amor, de proteção e, principalmente, resgata os encantos da cuiabania. Esta reportagem te levará para mundos distintos em uma só cidade, com um só povo. De escravos em busca do ouro, noites no cemitério e os encantos de um rio, as histórias cuiabanas marcam pessoas e estabelecem a cultura tricentenária que ainda resiste.
Aqui você pode ver e ouvir as lendas, conferir a entrevista com um pescador ribeirinho que garante já ter visto os seres fantásticos, ver a trajetória do Grupo Tibanaré que encenou nossas lendas, além de aprender um pouco mais sobre a história de Cuiabá.
Aproveite!
